2 de dezembro de 2013

Kumiko, onde estás?!

Ilustração Dulce Guarda

Kumiko, onde estás?!

Kumiko gostava de ir até às margens do rio, deitar-se perto do leito e olhar para o céu e imaginar animais fantásticos que se formavam com o tufar das nuvens brancas no azul cândido e brilhante.

Depois da escola e do trabalho no campo com sua mãe, vestia o kimono mais simples e lá ia saltitante, por entre o verde e os rasgos de terra castanha que separavam os arrozais.  A água fresca e o verde por debaixo dos seus pés, moldavam a ideia para descobrir algo novo todos os dias.
Certo dia, quando brincava com os reflexos da água do rio, reparou que por entre as largas folhas e flores dos nenúfares e o fundo negro da água, raios solares se enrolavam entre si; Parecia até que o rei sol, tinha-se mudado para dentro do rio.
Kumiko, curiosa, aproxima a sua face de porcelana, sobre o espelho da água, quando de lá de dentro, salta algo que a deixa aterrada de medo.  Era uma carpa!  

- Não tenhas medo! - Disse a carpa.
- Tu falas? - Respondeu Kumiko admirada.
- Claro que falo! E vejo-te brincar aqui todos os dias. Vim parar a este rio, na corrente da monção de Agosto e por aqui fiquei, porque me encantei por uma menina de eterna beleza. Tu! - Argumentou a carpa.
Kumiko estava impávida e serena a ouvir a gigantesca carpa. Gostava do que ouvia e do que via.
- E como te chamas? - Pergunta Kumiko
- Apenas Carpa - respondeu o peixe.
- Então serás a Carpa Dourada - disse Kumiko feliz.

Os dias passavam e em todos os dias, as duas amigas apareciam uma à outra e ficavam a conversar até perderem a noção das horas.
Kumiko era uma menina que tinha um forte desejo. Tinha nascido no campo, adorava a sua família, mas queria estudar, queria sair da sua casa de madeira e biombos de papel de arroz, conhecer o mundo.
Os anos passavam, muitas Primaveras floriram e os flocos de pétalas dos pessegueiros salpicavam as margens. E Kumiko crescia  na companhia e na sabedoria da Carpa Dourada.
A Carpa Dourada conhecia o desejo de Kumiko em partir. Mas sabia também do obstáculo da sua família, que pouco abastada, punha fim ao sonho da sua menina.
Passavam-se os dias e Kumiko continuava determinada em ir atrás de conhecimento.
Foi então que a Carpa Dourada, fazendo jus ao seu tamanho, se ofereceu para ajudar.

- Vais ao palácio do rei e dizes-lhe que tens a maior carpa de todos os rios da China e em troca, pedes ajuda para aprenderes o ofício que tanto desejas. - Disse a carpa a Kumiko.
- Mas se eu contar ao rei da tua existência, virão buscar-te do rio amarelo, da tua casa! – Exclamou Kumiko triste.
- Vai e faz o que te digo. – Retorquiu a carpa.

Numa tarde de Verão, Kumiko leva o imperador e os seus serviçais até ao rio onde a Carpa Dourada aguardava majestosamente o seu novo dono, de bigodes encaracolados, de escamas reluzentes ao sol, que nem pepita de ouro.
E assim aconteceu...
A Carpa Dourada trocara a sua liberdade, pelo sonho de Kumiko, que crescera no desejo de partir e estudar.
A magia superava a dificuldade!
Agora, num novo jardim, num lago imperial, habitava uma carpa. A Carpa Dourada!
E todos os dias, a Carpa Dourada, olhava o céu, e as nuvens que passavam com o vento e murmurava para si mesma:
- Na vida longa, encontrei a perseverança de uma jóia rara.

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!Mais uma fabula bistrô!

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