30 de junho de 2014

Destino «azul e verde»


Finalmente...Amanhã é 1 de Julho.  Em contagem decrescente e com muitas ganas que Agosto chegue logo.

Julho é um mês especialíssimo por inúmeras razões; calor, touros e festejar os 21# anos em comum, de vínculos, de construção e superação, de partilha de corpo e vida - Eu e tu! E viver momentos de amor e felicidade é isto mesmo; é dar-nos a alguém, sem esperar nada em troca.

Agosto é o mês de mudar de residência e a vontade é tanta em partir, que o meu foco principal é pensar nos dias que nos esperam. Mas até lá, ainda há muito para dar ao dedo, por isso, a pouca disponibilidade para bistrar.

Este ano decidimos ir até à helênica Atlântida, pois segundo dizem, localizava-se nos Açores.
E a razão principal de atravessar o Atlântico, é a Rosa, a minha "mana" do coração e a minha cantora sereia, a amorosa Inês.
Aprendi ao longo dos anos, que não devemos adiar momentos que sabemos que serão inesquecíveis, assim como vontades que a nossa alma desperta e, a minha disse-me: - vai até ao mar que é azul cristalino, onde as baleias juntam-se para confraternizar, os golfinhos brincam com os barcos dos visitantes, as cracas, as lapas e os cavacos de sabor marítimo intenso convidam para uma conversa enquanto os sentidos gustativos explodem de prazer,  os vinhedos crescem em terra vulcânica, a garoupa da pesca submarina do Duarte para o jantar acompanhada com o vinho de taninos quentes de lava, conquistar os mares no veleiro, palmilhar trilhos verdejantes, contemplar as lagoas, a flora e a fauna, vivenciar manifestações populares de fusão do profano e o sagrado, visitar ganadarias insulares, saborear uma gastronomia nova, conhecer novos amigos, viajar entre ilhas e conhecer, conhecer, conhecer...

Não conheço os Açores, mas pelo que pesquisei, tem o que preciso para viver - verde, mar e touros - uma trilogia da natureza que sacia o meu coração. Não acredito na reencarnação, no entanto, quando olho para as fotos, parece que lá vivi noutra quimera. Sei que tenho parentes na ilha do Faial, do lado do meu pai, os "De Medeiros". Quem sabe, não cruzamos o destino. Irei estar atenta.

De Portugal, é a terra que falta beijar. 
Serão umas semanas na paz de Neptuno e com Deus, que criou tal maravilha na Terra - um Éden no meio do Atlântico! 



Boa semana e que Julho traga o que tem de melhor.

24 de junho de 2014

"O que Distingue um Amigo Verdadeiro"


Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar - todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas.

Os amigos como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser amigo de todas as pessoas que se gosta. Ás vezes, para ser ser amigo de alguém, chega a ser preciso ser-se inimigo de quem se gosta.

Em Portugal, a amizade leva-se a sério e pratica-se bem. É uma coisa à qual se dedica tempo, nervosismo, exaltação. A amizade é vista, e é verdade, como o único sentimento indispensável. No entanto, existe uma mentalidade Speedy González, toda »Hey gringo, my friend» que vê em cada ser humano um «amigo».
Todos conhecemos o género - é o «gajo porreiro», que se «dá bem com toda a gente». E o «amigalhaço». E tem, naturalmente, dezenas de amigos e amigas, centenas de amiguinhos, camaradas, compinchas, cúmplices, correligionários, colegas e outras coisas começadas por c.

Os amigalhaços são mais detestáveis que os piores inimigos. Os nossos inimigos, ao menos, não nos traem. Odeiam-nos lealmente. Mas um amigalhaço, que é amigo de muitos pares de inimigos e passa o tempo a tentar conciliar posições e personalidades irreconciliáveis, é sempre um traidor. Para mais, pífio e arrependido.

Para se ser um bom amigo, têm de herdar-se, de coração inteiro, os amigos e os inimigos da outra pessoa. E fácil estar sempre do lado de quem se julga ter razão. O que distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando nós não temos razão. O amigalhaço, em contrapartida, é o modelo mais mole e vira-casacas da moderação. Diz: «Eu sou  muito amigo dele, mas tenho de reconhecer que ele é um sacana». Como se pode ser amigo de um sacana? Os amigos são, por definição, as melhores pessoas do mundo, as mais interessantes e as mais geniais. Os amigos não podem ser maus. A lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade. E claro que é difícil ser inteiramente leal, mas tem de se ser.

Miguel Esteves Cardoso, in "Os Meus Problemas"


20 de junho de 2014

Planos para fim-de-semana...


Fim-de-semana de Verão e emoção! Mais um, para não variar. 
Estar em contacto com cavalos é sempre um shot de alegria para o coração, e ainda para mais, sendo da raça cavalo Lusitano de docilidade, guerreiro, porte atlético...diria que é um animal onde os extremos tocam-se.
E será também a festa do colégio do Martim, do nosso "Coquinhas". A última festa em que marcará presença, pois finda uma etapa e começará outra. 
A vida não pára e tenho a ligeira sensação que esta fase vai passar a voar, pois de uma gaiola passará a um voo de asas com guias. 
Foram quatro anos espectaculares e não será uma despedida, mas um até breve, pois toda a equipa do colégio, ficará nos nossos corações.

Então, serão estes alguns planos de acção para estes dois dias de descanso familiar:

 Encantar 
(Domingo, pelas 17h00, Escola Portuguesa de Arte Equestre, Centro Equestre da Lezíria Grande, Cabrestos, Amazonas, Carrossel de trabalho e desfile de Coudelarias)
 Lambuzar uns sabores novos               
 Ouvir e ouvir a rádio do momento em som de fundo no V60 (que despede-se da família)

Divirtam-se, aproveitem, vivam intensamente todos os verbos de acção imperdíveis que a vida proporciona, porque a vida é uma incerteza...boa! BOM FIM-DE-SEMANA

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Liberdade é...galopar e sentir o vento na cara, fechar os olhos, voar e ter o céu como limite.  Dulce Guarda


17 de junho de 2014

♥♫ Brasil ☼♪


BRASIL...Terra paraíso criada por Deus.
De todos os países que conheço, é sem dúvida um dos eleitos. Fico dividida entre este país da América do Sul e África quando penso em viajar, quer em trabalho ou em lazer.  
Quero desbravar mais o Brasil e escolher onde plantar um dos meus sonhos - uma pousada de charme, armar-me em decoradora e brincar com as cores, cozinhar por paixão uns mimos lusos para os hóspedes e ficar lá, sem dia marcado de regresso, com uma cama de rede, pão de queijo, bijus de tapioca, o canto trissilábico do bem-te-vi, o murmúrio do mar...
Água de coco doce, a mais doce que saboreei pelos recantos do mundo, fruta suculenta e variada, gastronomia de encantos meus e divinamente estonteante, e depois é a música, a dança, muita bicharada, gente feliz, é tudo! O Pai do Céu estava inspirado quando criou este país e o colocou na rota da expansão marítima, quando a expedição portuguesa liderada por Pedro Álvares Cabral, em 1500 o descobriu.

O mundial de futebol parece trazer muitas surpresas, e Portugal estreou-se da pior forma.
Ao ver as imagens das reportagens, recordei as fantásticas viagens que fizemos por diversos pontos do Brasil e alguns amigos, do Nordeste, Mato Grosso, Sul... desafiaram a irmos até lá por esta altura. E que bem sabia!! Mas a vida não proporciona férias agora.

O Brasil tornou-se um vício de destino e deixou no meu coração uma vontade tremenda de ir e ficar.

Amei Jericoacoara, Fortaleza, Natal, Recife, Salvador da Baía... e tanto ainda por descobrir! 
A cidade maravilhosa, Rio de Janeiro será a próxima paragem, se Deus quiser.


Estas são algumas fotos de entre centenas que seleccionei para partilhar no diário.
E se a equipa das quinas não conseguir superar o que se aproxima...irei torcer pelo Brasil.

 Viva o Brasil!

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Não coma a vida com garfo e faca. Lambuze-se.       Machado de Assis

2 de junho de 2014

Manel e Fadista - O abraço.

Ilustração/Esboço Dulce Alves Guarda

Nos campanários começavam a amontoarem-se pequenos troncos secos e ervas trazidos pelas cegonhas. As raposas caçavam freneticamente as lebres que saltitavam por entre as pedras e a mata rasteira e, os mochos galegos permaneciam de vigia à espera de mirarem uns deliciosos ratos desprevenidos.
O ar de final de tarde estava ameno, sem vento e o alaranjado do céu, antevia uns dias solarengos.

Sentado debaixo do velho sobreiro do Monte Branco, Manel esculpia um pedaço de bucho. Ao longe, no horizonte do montado, pinceladas negras deambulavam como uma geometria de pontos andarilhos. Uma camada de touros encaminhava-se para a Barragem dos Patos Bravos onde saciavam a sede da tarde quente.
Era o momento pelo qual Manel aguardava e que tanto gostava de apreciar.

Manel era um aspirante a biólogo e no seu código genético, herdara a antiguidade e o espírito de moço de forcado; transpirava afición por todas as moléculas.
Depois de uns dias intensos de faculdade, reservava os fins-de-semana para as suas caminhadas pelo montado até à árvore de porte corticeiro e copa majestosos que o tinha embalado em tenra idade no baloiço que o bisavó tinha-lhe construido.  Agora, amava abraçar o tronco e sentir a energia daquela árvore que o acompanhava, assim como abraçar toiros bravos. E ali contemplava a liberdade de campo, a bravura e a nobreza do animal que mais venerava.

A sua paixão era pegar toiros; entregar-se serenamente à força de um forte e por vezes agressivo abraço, dado com os braços todos, dado com o corpo, dado com a pele, dado com o coração.
E naquela manada que a passo vinha até ele, podia estar o próximo abraço.

As festas seculares da vila estavam anunciadas em cartazes emoldurados nas paredes caiadas de fresco e na taberna do Ti Faustino, estava exposto o cartel onde o grupo de amigos de Manel, estava anunciado para as pegas da tradicional Corrida de Touros à Portuguesa de Domingo.
E da manada que gostava de ver nas margens da barragem, estavam seleccionados sete exemplares da ganadaria da terra.

A aproximação do dia, tomava-lhe as entranhas; um misto de medo, paixão e entrega de camaradagem. Dialogando com os seus pensamentos e com a navalha a esgravatar o bucho, a uns escassos metros, aproximava-se um toiro negro estrelado, musculado e astifino. Seria aquele imponente animal que o destino destinava-lhe? Manel observou-o. Era um toiro carregado de misticismo. A mancha branca na testa em forma de estrela era o prenúncio de algo. Na margem, estrelado saciou calmamente a sua sede com a água fresca. Ergueu a sua cornamenta, fixou por momentos Manel e em porte altivo, juntou-se novamente à manada.

Os festejos em honra da padroeira da terra, rebentavam com morteiros no céu. A música, a cor, os aromas, já faziam-se sentir e o sangue de foliões, crentes e aficionados fervilhava nas veias bem como  a alma na voz...Ooooolé! Na torre da igreja, os badalos nas campânulas dos sinos, marcavam as cinco da tarde... Nessa manhã, do sombrero camel do maioral, tinha sido lançada a sorte:
- E que Deus reparta a sorte!

Soa a Maria da Fonte. Começam as cortesias, e Manel perfilado no seu grupo, de barrete verde com lista encarnada, velhinho e de herança paternal ao ombro, esboça na areia, duas perpendiculares invocando protecção divina. Em praça, anuncia-se o Fadista de 560 Kg; um toiro de quatro anos de reinado e de divisa centenária. Toca o clarim para a esperada pega rija... É a hora do salto à trincheira para a pega de caras, à barbela ou de cernelha. E é Manel o escolhido, que vai à cara. Finalmente o derradeiro e único encontro de corpo humanimal.

De jaqueta de lã escarlate com ramagens, camisa branca, calção de anta, gravata negra e cinta vermelha, meia branca e sapato atanado, caminha para o Fadista... O toiro estrelado da barragem, pelo qual enamorou-se! O prenúncio era agora presente.
De barrete enterrado abaixo das sobrancelhas fartas, olhos negros fixos no negro estrelado, Manel cita-o com voz cantante e segura, conquistando a atenção e o galope cadenciado  de Fadista até si.
Numa moldura apinhada e em silêncio, Manel deixa-se levar abraçado no ímpeto de força à cara e que nem lapa no voo de Fadista, que ao sentir o abraço racional, degladeia-se irracionalmente nas alturas do seu destino.

Os olhares racionais e irracionais também cruzam-se, escolhem-se, assim como a atracção do fadado destino, pois ficara registado na história da tauromaquia, como o melhor abraço dessa temporada.

Dulce Guarda

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."  Vinicius de Moraes