Gosto
de perder-me nas horas a falar com um amigo que é psicólogo. Falamos de inúmeras situações da vida, como cada um a vive e analisamos as muitas vidas.
Umas
regem-se por um padrão socialmente correcto, outras vidas são vividas sob a
aparência, outras vidas são vividas de engano, outras vidas vividas da forma
como cada um assim deseja, pensa que é melhor ou, da forma como é feliz.
Segundo
ele, começamos a viver a partir dos quarenta anos e também, quando saímos da
nossa zona de conforto e arriscamos na procura da nossa felicidade.
Nas
nossas conversas, geralmente algo de novo marca presença no cardápio do dia,
como por exemplo, perceber as pessoas, os seus meios para atingir os fins, as
suas relações...e tanto mais. São os benefícios de ter um amigo com a
especialidade de psicologia.
Num dos nossos diálogos, explicou-me cientificamente, a diferença entre paixão e
amor. É como se comparássemos palavras e sentimentos, adolescência e idade
adulta, fruta verde e madura, de anos com data de validade e anos com o cunho
de sabedoria e por aí adiante.
E afinal, o que é paixão e o que é amor?
Quando
oiço uma miúda a dizer ao namorado, depois de se conhecerem a um par de dias – "amo-te" – fico a pensar como
pode?
Como
pode uma relação de meses ou alguns anos, ser resumida num amo-te, sem viver os
contratempos típicos de uma vida a dois, as dificuldades, os percalços, as
alegrias e as tristezas, os anos em comum de partilha...
Como
pode uma relação de meses ou alguns anos criar laços, vínculos para que a
palavra “amo-te” possa ser verbalizada?
Passou
a ser banal dizer “amo-te” e talvez por isso, algumas relações são cada vez mais
cruas e menos genuínas.
Na
minha modesta análise, paixão é o que sentimos quando iniciamos uma relação e
perdura num tempo limitado. É um sentimento desmedido regido por ordenações
vindas de um coração deslumbrado, de vontades loucas, de clichés feitos... e
quando saudável, dá coragem e entrega, é e dá vida, “é fogo que arde sem se ver” que
depois de ardido, restam as cinzas, cinzas soltas ao vento ou então, cinzas que
viram Fénix renascida, ou seja, o Amor. A paixão é o que é no momento, que
estagna no seu período de validade ou cresce para o amor.
O
amor é real, depois de muitos anos em comum, de obstáculos, depois de muita
cumplicidade.
Diria
até que amar é uma panóplia de sabores, de sensações opostas ao acto de amar,
como por exemplo, o medo, a dor, a revolta, a raiva, a rotina...No entanto, se
o amor for verdadeiro, é incrível como a capacidade de renascimento, de refazer
a vida acontece. A tal Fénix Renascida que mencionei anteriormente!
E
amar é sobretudo, quando chegamos a um patamar de vida, de passar por
diferentes fases e revermo-nos na nossa outra metade e vice-versa e ter a noção
de que amar é viver uma encenação de contos de fadas, onde somos uma vezes príncipes
e princesas, pinóquios e peter pans, ogres e bruxas, mas no The End, chegamos à
conclusão de ter passado por uma incrível experiência humana repleta de imperfeições remendadas, mas uma experiência fortalecida pela superação a dois.
Quem
confecciona um amor sem o esturricar, sem apostar nas diferentes combinações e
explosões de sabores, nunca será o master chef da sua cozinha e não conseguirá
realizar aquele prato divino.
O
verdadeiro amor não é uma receita perfeita! É refazer uma receita com os
ingredientes certos, de criar água na boca, balancear os sabores bons e
saborear olhos nos olhos por ti ou em ti!
Dulce Madalena Guarda ♥
{ O filme "Diário da nossa paixão" retrata bem uma Paixão que cristalizou-se em Amor}