3 de janeiro de 2013

Toma um café contigo mesmo...

 

Recordo na minha infância, estar muitas vezes na minha companhia, na imensidão do meu quarto de tecto azul celeste, papel de parede com padrão floral azul e branco, portas e janelas grandes e brancas e chão de madeira antiga.
De ouvir a minha mãe: - Mimi, Mimiiiiiiii... vem jantar!

Familiares diziam que era demasiado introvertida, contrariamente ao meu irmão.
Lembro que passava horas a escrever no meu diário, a ler, a brincar com os meus cães, a tocar piano, a colorir livros, desenhar,... 
Em toda a minha vida precisei e preciso destes momentos, os meus momentos, harmonizando o meu Mundo com o Mundo.
Aos dezoito anos fiz algo impensável e quebrou todos os rótulos de "menina de biscuit".
Na época gerou grande mediatismo e passados vinte anos, um canal de televisão, recordou esses momentos únicos da minha vida. 
Todos os cafés que tomei comigo mesmo, conheci o meu corpo, a minha mente, a minha alma.
Surpreendia-me como interpretavam esses momentos  de estar comigo mesma, de ser "bicho do mato". 
Juro que foram os melhores dos meus dias...não estava sozinha em absoluto!

=)

Por estes dias esbarrei neste texto de Paulo Coelho, onde descreve a solidão de forma perfeita. 
A tal solidão tão importante para mim...o silêncio tão comunicativo!!
Sem a solidão, o Amor não permanecerá muito tempo ao seu lado. Porque também o Amor precisa de repouso, de modo que possa viajar pelos céus e manifestar-se de outras formas. Sem a solidão, nenhuma planta ou animal sobrevive, nenhuma terra é produtiva por muito tempo, nenhuma criança pode  aprender sobre a vida, nenhum artista consegue criar, nenhum trabalho pode crescer e se transformar. A solidão não é a ausência do Amor, mas o seu complemento. A solidão não é a ausência de companhia, mas o momento em que a nossa alma tem a liberdade de conversar connosco e ajudar-nos a decidir sobre as nossas vidas.  Portanto, abençoados sejam aqueles que não temem a solidão. Que não se assustam com a própria companhia, que não ficam desesperados em busca de algo com que se ocupar, se divertir, para julgar. Porque quem nunca está só já não conhece mais a si mesmo. E quem não conhece a si mesmo passa a temer o vazio. Mas o vazio não existe... Um mundo gigantesco se esconde na nossa alma, esperando para ser descoberto. Está ali, com sua força intacta, mas é tão novo e tão poderoso que temos medo de aceitar sua existência. Porque o facto de descobrir quem somos nos obrigará a aceitar que podemos ir muito além do que estamos acostumados. E isso assusta-nos. Melhor não arriscar tanto, já que podemos sempre dizer: "Não fiz o que precisava porque não me deixaram." É mais confortável. É mais seguro. E, ao mesmo tempo, é renunciar à própria vida. Ai daqueles que preferem passar a vida dizendo "Eu não tive oportunidade"! Porque a cada dia afundarão ainda mais no poço dos próprios limites,e chegará o momento em que não terão mais forças para escapar dele e encontrar de novo a luz que brilha pela abertura por cima das suas cabeças. E aqueles que estão sós neste momento, jamais se deixem assustar pelas palavras do demônio, que diz: "Você está perdendo tempo." Ou pelas palavras, ainda mais poderosas, do chefe dos demônios: "Você não importa para ninguém." A Energia Divina nos escuta quando falamos com os outros, mas também nos escuta quando estamos quietos, em silêncio, aceitando a solidão como uma bênção. E para aqueles que se sentem oprimidos pela solidão, é preciso lembrar: nos momentos mais importantes da vida sempre estaremos sozinhos. Como a criança ao sair do ventre da mulher: não importa quantas pessoas estejam à sua volta, cabe a ela a decisão final de viver. Como o artista diante de sua obra: para que o seu trabalho seja realmente bom, ele precisa estar quieto e escutar apenas a língua dos anjos. Como nos encontraremos um dia diante da morte, a Indesejada das Gentes: estaremos sozinhos no mais importante e temido momento de nossa existência.Assim como o Amor é a condição divina, a solidão é a condição humana. E ambos convivem sem conflitos para aqueles que entendem o milagre da vida. 
                             Manuscrito encontrado em Accra - Paulo Coelho



Um bom livro para ler, para quem gosta do género é "Toma um café contigo mesmo", título que deu nome ao texto de hoje no diário.
É um livro de Walter Dresel, onde alerta para conversarmos com a essência do nosso Eu.



E hoje, já tomaram o vosso café? 
Com açucar e mexido com pau de canela, ou ao natural?
Um café amoroso, silencioso, ou de murmúrio?!

Eu já tomei o meu... Amoroso!

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