Recordo na minha infância, estar muitas vezes na minha companhia, na imensidão do meu quarto de tecto azul celeste, papel de parede com padrão floral azul e branco, portas e janelas grandes e brancas e chão de madeira antiga.
De ouvir a minha mãe: - Mimi, Mimiiiiiiii... vem jantar!
Familiares diziam que era demasiado introvertida, contrariamente ao meu irmão.
Lembro que passava horas a escrever no meu diário, a ler, a brincar com os meus cães, a tocar piano, a colorir livros, desenhar,...
Em toda a minha vida precisei e preciso destes momentos, os meus momentos, harmonizando o meu Mundo com o Mundo.
Aos dezoito anos fiz algo impensável e quebrou todos os rótulos de "menina de biscuit".
Na época gerou grande mediatismo e passados vinte anos, um canal de televisão, recordou esses momentos únicos da minha vida.
Todos os cafés que tomei comigo mesmo, conheci o meu corpo, a minha mente, a minha alma.
Surpreendia-me como interpretavam esses momentos de estar comigo mesma, de ser "bicho do mato".
Juro que foram os melhores dos meus dias...não estava sozinha em absoluto!
=)
Por estes dias esbarrei neste texto de Paulo Coelho, onde descreve a solidão de forma perfeita.
A tal solidão tão importante para mim...o silêncio tão comunicativo!!
Sem a solidão, o Amor não permanecerá muito tempo ao seu lado. Porque também o Amor precisa de repouso, de modo que possa viajar pelos céus e manifestar-se de outras formas. Sem a solidão, nenhuma planta ou animal sobrevive, nenhuma terra é produtiva por muito tempo, nenhuma criança pode aprender sobre a vida, nenhum artista consegue criar, nenhum trabalho pode crescer e se transformar. A solidão não é a ausência do Amor, mas o seu complemento. A solidão não é a ausência de companhia, mas o momento em que a nossa alma tem a liberdade de conversar connosco e ajudar-nos a decidir sobre as nossas vidas. Portanto, abençoados sejam aqueles que não temem a solidão. Que não se assustam com a própria companhia, que não ficam desesperados em busca de algo com que se ocupar, se divertir, para julgar. Porque quem nunca está só já não conhece mais a si mesmo. E quem não conhece a si mesmo passa a temer o vazio. Mas o vazio não existe... Um mundo gigantesco se esconde na nossa alma, esperando para ser descoberto. Está ali, com sua força intacta, mas é tão novo e tão poderoso que temos medo de aceitar sua existência. Porque o facto de descobrir quem somos nos obrigará a aceitar que podemos ir muito além do que estamos acostumados. E isso assusta-nos. Melhor não arriscar tanto, já que podemos sempre dizer: "Não fiz o que precisava porque não me deixaram." É mais confortável. É mais seguro. E, ao mesmo tempo, é renunciar à própria vida. Ai daqueles que preferem passar a vida dizendo "Eu não tive oportunidade"! Porque a cada dia afundarão ainda mais no poço dos próprios limites,e chegará o momento em que não terão mais forças para escapar dele e encontrar de novo a luz que brilha pela abertura por cima das suas cabeças. E aqueles que estão sós neste momento, jamais se deixem assustar pelas palavras do demônio, que diz: "Você está perdendo tempo." Ou pelas palavras, ainda mais poderosas, do chefe dos demônios: "Você não importa para ninguém." A Energia Divina nos escuta quando falamos com os outros, mas também nos escuta quando estamos quietos, em silêncio, aceitando a solidão como uma bênção. E para aqueles que se sentem oprimidos pela solidão, é preciso lembrar: nos momentos mais importantes da vida sempre estaremos sozinhos. Como a criança ao sair do ventre da mulher: não importa quantas pessoas estejam à sua volta, cabe a ela a decisão final de viver. Como o artista diante de sua obra: para que o seu trabalho seja realmente bom, ele precisa estar quieto e escutar apenas a língua dos anjos. Como nos encontraremos um dia diante da morte, a Indesejada das Gentes: estaremos sozinhos no mais importante e temido momento de nossa existência.Assim como o Amor é a condição divina, a solidão é a condição humana. E ambos convivem sem conflitos para aqueles que entendem o milagre da vida.
Manuscrito encontrado em Accra - Paulo Coelho
Um bom livro para ler, para quem gosta do género é "Toma um café contigo mesmo", título que deu nome ao texto de hoje no diário.
É um livro de Walter Dresel, onde alerta para conversarmos com a essência do nosso Eu.
E hoje, já tomaram o vosso café?
Com açucar e mexido com pau de canela, ou ao natural?
Um café amoroso, silencioso, ou de murmúrio?!
Eu já tomei o meu... Amoroso!
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