19 de novembro de 2013

A loucura da verdade



Falar e agir honestamente, hoje em dia não é qualidade, é defeito.
Muita das vezes, ou se é inconveniente, do contra, ou louco, por ser verdadeiro e autêntico. Apesar de tudo, entre a mentira e a verdade, escolho a verdade a ficar comigo. Aprendi a temperar a vida com a verdade.
Na busca incessante pelo ideal de ser uma pessoa perfeita, há também a mania de agradar a todos em alto índice de bondade, partilha e comunhão generalizada. Seria magnânime sim, mas se o ser humano fosse perfeito.
No entanto, há pessoas boas, sem interesses camuflados, pessoas de boa índole, de verdade e, que fazem crer que poderá haver salvação para um mundo melhor.
E quem são essas pessoas?
São aquelas que se mantêm no anonimato, que não necessitam de espalhar a grandiosidade dos seus actos. Simplesmente fazem sem esperar “remuneração”. Não se embelezam no Facebook e noutras redes sociais, na televisão como um spot publicitário,...
Eu até já apareci num canal de televisão. Há vinte anos atrás, uma vivência do passado adolescente até ao presente mas sem auto-promoção. E ainda este fim-de-semana, o mesmo canal, veio até à terra onde ainda resido, e mais uma vez mas noutra vertente, devia aparecer. Mas fiquei com a verdade, longe da terra e da frente da televisão. Se não gosto, porque teria de agradar, participar e ficar?!
No colégio do Martim, dia do fotógrafo tirar as fotos de Natal. Se não usamos as fotos, nem o M gosta de ser modelo fotográfico, porquê assinar “autorizo o meu filho a ser fotografado”?

Porquê ao sermos verdadeiros, podemos desagradar? E já conheceu aquela pessoa que diz ser uma coisa e é outra?
Daquelas que são contra os maus-tratos a animais, mas se vêem uma criança a pedir na rua, ignoram-na; Ou pessoas que são contra as touradas, mas usam casaco de peles e sapatos de couro, adoram arroz de cabidela e chouriço de sangue; Que tem um ou dois empregos, vive em casa e à custa dos pais, e acusa o vizinho desempregado de ser mau pagador? Ou usam roupas de marca, carros topo de gama, jóias e, às refeições dão aos filhos ovos fritos com salsichas enlatadas e roupa sintética da banca da feira.
Pois é! Elas estão por todo o lado.
O politicamente correcto irrita-me profundamente. Cansada de gente boazinha, que vai à missa, tem os filhos na catequese e pratica o Inferno, que falam bem pela frente e por trás das costas são profundas catanadas. Farta de gente que aponta o dedo nos bastidores e que em palco, são sorrisos e abraços; De gente de paz e amor, e em voz off, é apontar defeitos aos outros, sendo eles o cúmulo da iluminação do samadi; Farta de pessoas que agradecem a Deus no Facebook, sabendo de antemão que Deus não o usa e graças a Deus que não.
Ninguém é perfeito e devemos assumir que temos problemas, no trabalho, com alguém, o que seja. Agora, deixar de sermos quem somos só para agradar ou sermos alguém que não somos, só para ficar bem na fotografia! Isso não! Acho solitário e triste mentir para nós mesmos.
Contudo, sei que há pessoas boas, fantásticas e que juntas podem fazer a mudança. Afinal a união faz a força.
Agora, quanto à outra facção, não mudam e nem fazem para isso. Porquê trocar a falsa ribalta, de fácil construção, pela pura verdade pacata? Embora se possa enganar o mundo com a ilusão, teremos sempre de viver com quem nós somos realmente.
E no Natal? Na quadra que se avizinha, antes de curtir uma campanha de solidariedade como se a fosse fazer na realidade, questione o seu coração se é isso mesmo que vai fazer de verdade ou se é apenas para Facebook ver. Não engane o seu coração bom, pois o que o seu coração vai receber de presente é o vazio da mentira.

Eu sei que não posso mudar o mundo, mas posso mudar a mim própria. Seja autêntico, doe a quem doer, custe o que custar.


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Numa sociedade sustentada pela mentira, qualquer expressão da verdade é vista como loucura. Emma Goldman

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