12 de fevereiro de 2014

Memórias solarengas em dia de chuva

Hoje custou a acordar e, com a água que teima em acinzentar as nuvens e de cair todos os dias lá de cima, ainda se torna mais difícil! Cansada das galochas, do cabelo ondulado e molhado,  chapéus-de-chuva de varetas tortas e marrecas que tombam com o vento.  

E ontem o dia acabou abençoado! Sereno mas intenso.

E hoje? Perfumei-me com o aroma quente  e vintage da energia solarenga familiar.

Numa simpática e aconchegante conversa, ainda a noite não tinha chegado, recordei uma morada e o que nela se fazia, pois tudo convergia à sua volta e tinha um ponto de referência estratégico; Um antigo convento Franciscano que após o terramoto de 1755 caíra e da reedificação, nascera uma igreja matriz. 
Então, regressei à "Rua da Fonte Nova nº12" na máquina do tempo, à minha casa.
Recordei a casa azul do princípio do século XX, de janelas brancas, dois bicos brancos a encimar o telhado laranja na fachada principal, a escadaria interior de dezoito degraus, em madeira exótica, um corrimão longo e polido onde gostava de deslizar a toda a velocidade, um sotão que fazia as delícias do misterioso, da arca velha decorada com papel às riscas, cheia das roupas e colares da avó Ângela e da tia Hnihni, que usávamos para teatros e brincadeiras de fazer de conta e depois de muito divertimento, os lanches da Titena!
Recordei os Sábados, os Domingos cheirosos, pois da cozinha flutuava um carreiro de névoa invisível de aromas de receitas tradicionais deliciosas.
Recordei o pai e a mãe e as suas actividades, no que acreditavam e a entrega com que tudo faziam.
Recordei os sons tipícos da casa.
Recordei a bicharada que por lá havia.
Recordei as músicas dos discos de vinil, os encontros e festas no salão revestido a azulejo azul e branco e o piano preto com candelabros em bronze que estava na sala de entrada, a mesa comprida com quatro peixes-dragão verdes, as cadeiras de espaldar alto e o serviço de pratos azulão, hoje dividido entre mim e o meu mano, o faqueiro de prata que na minha pequena mão, parecia uma espada da Idade-Média, os copos finos de cristal com base bojuda e com borbulhas de ar, a colecção de pratos "Cavalinho" que salpicavam a parede azul-céu, as jarras sempre coloridas com rosas ou cravos brancos e gipsófila, o cisne de biscuit com papoilas farfalhudas de veludo,...
Tantas lembranças!

Depois de alguns anos, a missão que a minha família sempre abraçou, a que os meus pais continuaram e se entregaram e nos educaram, convida-me agora para a Festa. 



Alguém, aqui e agora,  é  intermediário entre o céu e a terra.
Alguém, aqui e agora, foi e é, o mecânico, o bate-chapa, que reparou e rapara os acidentes ao longo do caminho! LOL
E alguém de outra morada, continua a olhar e a cuidar.

Missão todos temos uma. Em tempos, numa outra porta, ouvi a campainha tocar. Aquele som ficou registado mas ainda não tinha chegado a hora para aceitar o chamado mas, no tempo certo, não uma, mas várias campainhas tocaram e eu abri  a porta. 
Sê bem vinda! Estou pronta.

E se recordar é viver, a longa metragem que ontem revivi chama-se "Memórias solarengas em dia de chuva" =)

On a mission to have a good time!


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