Ilustração Madalena Guarda |
Olhos bravos e quentes como hortelã da ribeira e pimenta caeina.
Cabelo negro como cravinho com aroma de flor de laranjeira.
Lábios ardentes como malagueta encarnada e sabor a canela picante.
Pele macia como veludo de pêssego.
Amapola, Amapola, onde bailas tu minha bela flor cigana andaluza?
No ar, o cheiro de lenha queimada de uma fogueira a crepitar, um carroção decorado e pintado de verde e carmim com os seus dois belos Gypsy Cob, e um outro cavalo de crinas brancas com longos pêlos nas patas a mordiscar a erva rasteira que teima crescer por debaixo da azinheira.
Uma mantilha bordada a seda colorida solta na liberdade da noite clara.
A lua emoldurada no céu.
Molhos de folhos que nem pétalas de rosa revolvem a terra ocre e, um baile de renda e lunares brancas brilham como estrelas cadentes na noite, ao redor do lume alaranjado, de fulgor flamejante. As sombras fundem-se com o pó num só.
A compasso, o sentimento espontâneo de duende transmuta-se nas línguas de fogo, nas palmas sincronizadas que o vento espalha, com o trinar de uma guitarra flamenca e negras castanholas.
Mãos adornam e expressam silenciosamente as lágrimas de emoção, de sentimento, de desafio, de riso, com olhar misterioso e envolvente...
Pés que fixam raízes e se ligam à Terra de ninguém e taconeiam vida ao Criador como tambores tribais.
Corpos enlaçados de aura rosa e em movimentos de flamingo, uma luta de conquista na dança da paixão até ao Amor.
El cante, el toque, el baile... União de certezas raras e únicas vividas num só momento.
El cante, el toque, el baile... União de certezas raras e únicas vividas num só momento.
E por fim, com uma chuva de fogo meteórico, Amapola adormece abraçada no encontro de dois corações.
♥
É a saudade do calor do sol que me aqueceu a alma para temperar o post da tarde , com sabor a andaluzia.
Boa semana!